Sobre as sucessivas declarações de óbito feitas à crítica literária
Sabes a conversa de que já não existe crítica literária? Tem graça que quem mais o repete sejam esses que procuram assegurar-se disso. Ainda que o vistam de lamento, na verdade, estão é a formular um desejo, e a cada oportunidade vêm propor a extrema unção da coisa. É um dos sinais do ambiente de censura tão particular que funciona entre nós, este silêncio venenoso aplicado numa espécie de consórcio de forma a negar a existência a quem quer que venha pôr em causa a caixa geral de depósitos a nível da legitimação literária. A literatura transformou-se em mais outra instituição de crédito, e, os que escrevem, mal abrem conta, querem ter no crítico um gerente para lhes dar soluções de investimento, ajudando a promover o portefólio. Nunca lhes passaria pela cabeça que a tarefa da crítica num dado momento possa ser entrar por ali adentro com os maus modos próprios de banais assaltantes, isto para não gerar demasiado pânico, mas depois, em vez de rebentar o cofre, encher sacos de dinheiro e cavar, prefere espalhar gasolina, puxar fogo aos valores e aos títulos e, por fim, entregar-se com um sorriso às autoridades.
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