Vasco Graça Moura. Isto é contra a morte
Texto originalmente publicado na revista Ler, no Outono de 2024 Passados dez anos sobre a morte de Graça Moura, a exigência de lembrá-lo coloca-nos perante a tensão de um perfil radiante, num contraste decisivo face a uma época em que as consciências se estilhaçam e só se exprimem por meio de detritos. Com o seu balanço e enlevo renascentista, ele soube prender nas mãos o fulgor dessas sínteses que renovam a consistência do mundo. Magnífico artesão, trovador solerte, rapsodo descarado, orgiástico, com uma desenvoltura malabar, absorvente, vitalista. Vasco Graça Moura é menos um poeta que nos força a reconhecê-lo pela perfeição de algumas composições supremas, do que pelo dinamismo da sua personalidade poética, ela, sim, radiante, e que parece deixar os versos como um rastro, vestígios do seu modo particular de frequentar essas zonas exigentes onde uns poucos seres, “tendo bebido da mesma fonte, sabem como se pôr de joelhos, prender a água nas mãos sem a deixar fugir, até ao gole radios...