A porteira que se cansou de estar de pé e preferiu receber na cama
Em inícios de dezembro, este mês inclinado, e que nos surge à porta embalado e acondicionado em esferovite, com instruções para cada um o montar e mais logo o descartar com o pinheiro e as luzes, quando for conveniente, antecipam-se os balanços, dispõe-se em regime de feira aquilo que se diz ser um horizonte, sempre tão mal-enjorcado, como se a vida fora um recibo mal selado. Vêm-nos com listas, destaques, numa manobra publicitária para ir a tempo das compras de Natal, e num regime de montra que mereceria antes ser designado como “saldos do ano acabado”. É um processo de obliteração das hipóteses que nos demos de suspender esta fuga esgotante, esta precipitação em direcção à coisa seguinte. Na verdade, ninguém se guarda para esta altura na expectativa de ter sobressaltos, antes, quem vive distraído, procura iludir-se com uma possibilidade de desforra. É também mais por culpa de quem nunca admite um reverso do cenário lógico que, no caso da poesia, não se discutindo as suas investigaçõe...